Conteúdo elaborado por
Natália C. Quintão
Cão-Robô, famosos na passarela e cabaré: Alguns highlights da SPFW N57.
A São Paulo Fashion Week (SPFW) destaca-se como o principal evento de moda do Brasil e da América Latina, ocupando uma posição de destaque como o quinto maior evento de moda do mundo, ficando atrás apenas das semanas de moda de Paris, Milão, Nova York e Londres.
Além de ser um ponto de encontro para grifes, estilistas, modelos e ícones da moda, a SPFW tem uma importância significativa na reflexão de acontecimentos e comportamentos sociais, proporcionando um espaço para criações e designers que capturam a essência da moda brasileira, enraizada na cultura do país, com reconhecimento e relevância merecidos.
Na sua 57ª edição, a SPFW celebra a sintonia com um processo criativo contínuo de transformação e é claro nosso núcleo de moda acompanhou e reuniu aqui os principais momentos do evento:
A vida cotidiana cada vez mais entrelaçada com a tecnologia e a IA
Diversas marcas usaram de referências e vivências com diversas tecnologias para criar contrastes e gerar borburinho. A marca Forca Studio, sob a direção criativa de Vivi Rivaben e Silvio De Marchi, apresentou a coleção "Everyday It’s 1989" na São Paulo Fashion Week, demonstrando uma perspectiva vanguardista onde a tecnologia e a inteligência artificial permeiam cada vez mais nosso dia a dia.
Um dos destaques do desfile foi a presença marcante da tecnologia, exemplificada pela aparição de um cão-robô. Este cão mostrou habilidades que equiparam-se às de um cachorro de verdade, evidenciando a crescente integração entre máquinas e vida cotidiana.
Além disso, a modelo Vitória Strada surpreendeu o público ao desfilar com um drone preso à sua roupa, ilustrando a fusão entre moda e tecnologia.
A parceria da Forca Studio com a label esportiva italiana Kappa evidencia o compromisso da marca em oferecer visuais contemporâneos e versáteis para diversas ocasiões, refletindo uma visão futurista da moda impulsionada pela inovação tecnológica.
Nem só de tecnologia se vive, o trabalho manual em sua mais pura forma recebe grande destaque
Na estreia da Catarina Mina na SPFW N57, artesãs foram homenageadas como as "Guardiãs da Memória", representando a coleção de 40 looks feitos com 6 técnicas artesanais distintas. Destaque para o crochê, utilizando fios de cetim para rigidez e toque específicos, além de combinações com linho ou seda pura. A marca apresenta peças comerciais e conceituais, com um compromisso real com a transparência e equidade através de sua participação no Pacto Global da ONU e da divisão justa de valores com as artesãs.
Ainda falando em destaques e valorização de texturas, culturas e regionalidade, a Dendezeiros fez uma linda apresentação da coleção “Para aqueles que acreditam na liberdade” reunindo modelagens ricas, referências visuais maravilhosas e muita diversidade, um verdadeiro “convite para acessar sentimentos internos e explorar as nossas diversas emoções”, parafraseando a própria marca.
Mais uma vez, a participação de famosos e influenciadores nas passarelas chamam a atenção.
A participação de celebridades nas passarelas da moda tem gerado debates. Por um lado, há quem veja benefícios no uso de influenciadores para promover marcas e criar buzz marketing, aproveitando seu grande alcance e engajamento nas redes sociais. No entanto, essa prática também tem sido criticada por tirar espaço de modelos profissionais, que muitas vezes passaram por anos de treinamento e experiência para atuar nas passarelas.
Não é de hoje que celebridades participam de desfiles de forma mais ativa nas passarelas. No entanto, a ascensão dos influenciadores digitais e o seu impacto nas redes sociais mudou a dinâmica do mercado de moda, ampliando o acesso ao público em geral e democratizando a moda. Apesar de tornar a moda mais acessível e inclusiva, essa mudança também levanta preocupações sobre a qualidade e autenticidade dos desfiles, que podem ser percebidos mais como espetáculos midiáticos do que eventos focados na apresentação de criações artísticas e tendências de moda.
Diante desse cenário, surge o questionamento sobre se a crítica à participação de celebridades nas passarelas está relacionada à busca pelo profissionalismo ou à manutenção de um mundo fashion excludente. Algo que podemos adiantar é que será um desafio encontrar um equilíbrio entre tradição e inovação, que precisa conciliar a necessidade das marcas em se manterem relevantes e atualizadas com a preservação dos valores e padrões de excelência que as caracterizam.
Encerramento da edição com diversidade, performances e festa em cabaré
As estilistas Carol Gold e Pitty Taliani celebraram os 20 anos da Amapô durante o encerramento da SPFW N57, reunindo amigos e peças de coleções antigas e novas. A passarela foi repleta de reedições dos looks mais icônicos da marca, destacando-se pela referência em jeans, patchwork, calças boca-de-sino e detalhes em pedraria, além de alfaiataria e modelos oversized.
O evento culminou em uma festa animada ao som de "Baile de Peruas", do duo No Porn, onde músicos, apresentadores, atores, performers e familiares das estilistas se apresentaram na Love Cabaret, transformada em cabaré para a ocasião. A diversidade do casting e a energia contagiante das performances marcaram o encerramento da edição, proporcionando uma experiência única aos presentes.
Por que você deveria acompanhar mais a SPFW? Faz sentido para marcas mais populares também se focarem nesses eventos de moda muitas vezes inalcançáveis?
Acompanhar o SPFW é mergulhar na moda contemporânea, onde tendências, street style e mudanças comportamentais se convertem em um vasto acervo criativo. Os desfiles oferecem uma prévia das tendências que em breve influenciarão o estilo das ruas, desde silhuetas e tecidos até cores e estampas. Além é claro, de movimentos e tendências emergentes e originais que muitas vezes surgem nessas passarelas.
Além de um evento de moda, o SPFW exemplifica como a economia criativa impulsiona o desenvolvimento das cidades e do país, transcendendo seu papel de “simplesmente vender roupas/acessórios” para se tornar um ponto de convergência e network criativo.
Com investimentos superiores a 1 bilhão de reais, o SPFW já atraiu mais de 3 milhões de pessoas e alcançou mais de 1 bilhão de espectadores em cerca de 100 países pela TV e Internet. Isso sem falar dos números que não contados sobre movimentação de pessoas, borburinho nas redes sociais e claro, os movimentos de vestimenta e atitude que muito além das passarelas também circulam nos corredores, backstages e fileiras de espectadores, é uma verdadeira ode à moda autoral e mais ousada.
Marcas e empresas do ramo da moda e do têxtil por mais que não consigam em sua realidade aplicar uma moda e uma comunicação tão conceitual, devem acompanhar movimentos e tendências apresentados, pois como já falamos, essas tendências - hoje distantes – figurarão e irão ditar movimentos populares em poucos meses, e neste momento, quem estiver consciente e pronto para aplicar essas tendências de forma ágil e ajustada ao seu público, sai na frente.
Em suma, a SPFW não é apenas uma semana de desfiles de moda, mas uma experiência transformadora, inspiradora e muito rica para todos os que se conectam a ele.